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A dor de resistir

Que vida é essa de quem não aceita a mudança?


A palavra resistência deriva do latim “RESISTERE”: “Re”, que quer dizer “para trás, contra”, e “sistere”, que significa ficar firme, manter posição”. Ou seja, em sua raiz, resistir é manter posição contrária ou firme para trás.


Não para menos, na Psicanálise, o verbete é assinalado como “a recusa do paciente em tomar consciência de suas motivações inconscientes e/ou reconhecê-las como motivações próprias e escondidas da experiência vivida e de sua conduta”.


Dito de outro modo, aquele que identifica os seus dias como uma repetição incontrolável de conflitos, sem perspectiva de melhora, provavelmente, está em condição de resistência.


Geralmente, há um benefício inconsciente em manter-se nesse estado – o de ser vítima, por exemplo -, mas é preciso ampliar a consciência para enxergar tal dinâmica.


Hipócrates, alcunhado “pai da Medicina”, tem uma frase célebre a este respeito: “Antes de curar alguém, pergunta-lhe se está disposto a desistir das coisas que o fizeram adoecer”. Isto é, não adianta cercar-se de pessoas solidárias à dor, é preciso responsabilizar-se por ela também e agir para mudar o cenário pessoal.


A resistência é um problema no sentido em que essa energia é paralisante e estagnadora. Quanto mais a nossa mente resiste a aceitar as diferenças, as imperfeições, os comportamentos diferentes dos nossos, as ideias estranhas das que aprendemos como corretas em nosso meio familiar e social, quanto mais resiste a interagir de forma equilibrada e adulta, mais rígida e egocêntrica ela se torna.


O resultado disso é o sofrimento, pois este indivíduo não desenvolve seus potenciais criativos, não expande as suas conexões, tem pouco aprendizado, já que, isolado em seu universo, “já sabe como tudo funciona”.


O médico terapeuta e criador do método da Consciência Sistêmica, Fernando Freitas, afirma que “a vida é como um videogame: aprende-se algo numa fase e passa-se para outra”. Para Freitas, aqueles que resistem não têm prazer em vivenciar a próxima etapa e agarram-se ao já conhecido. “Que vida é essa?”, ele questiona.


Como a vida é implacavelmente boa para todos nós, e estar em sintonia com ela é estar em permanente evolução, aquilo a que resistimos sempre voltará a nos desafiar até quebrarmos esses muros e nos sentirmos motivados a mudar, a transgredir e a passar de fase.


Idealmente, o adulto saudável é aquele que não se intimida com a mudança e que, como um rio, flui naturalmente até desaguar no oceano profundo da vida.