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Que tipo de amor buscamos?

No Ocidente, uma tragédia amorosa é a inspiração de relações ideais


Duas famílias rivais colecionam assassinatos recíprocos e nutrem ódio uma pela outra. Os filhos jovens apaixonam-se perdidamente, casam-se em segredo e suicidam-se para realizar, em outro plano, o amor impossível.


Sem dúvidas, a obra de William Shakespeare, escrita no século XVI, suscita suspiros entre apaixonados e faz despertar no coração dos solitários - ou desiludidos - o desejo profundo de encontrar, quem sabe, o seu Romeu ou a sua Julieta.


Apesar de terem se passado quase 500 anos desde a primeira publicação, “Romeu e Julieta” imortalizou-se não apenas como clássico da literatura universal, mas consolidou-se como um ideal de amor a que todos aspiram encontrar: fervoroso, passional e capaz de renunciar a própria vida para demonstrá-lo.


Para nós, este é o aspecto da tragédia shakespeariana que chama a atenção, isto é, a crença transmitida, geração após geração, de que o amor só é grandioso quando causa sofrimento, quando inserido em um enredo conflituoso, de não-podes e de desencontros. Em suma, quando parece inalcançável. É como se tivéssemos um sensor interno que disparasse ao menor sinal de problema e ressoasse como um convite irresistível a vivenciar o próprio “Romeu e Julieta”, cujos personagens também acreditavam em um final feliz.


O que colocamos em perspectiva aqui não é a dimensão do amor ou da paixão que cada um sente ou experimenta em sua vida, mas o quão saudável ou nocivo este sentimento é para os que o vivenciam ou aspiram vivê-lo nos termos da obra de Shakespeare.


Do ponto de vista da abordagem sistêmica, “Romeu e Julieta” nos oferece uma boa reflexão sobre o amor doentio e o amor saudável. Na peça, Romeu, de 17 anos, entra em cena já doente de amor pela prima de Julieta, Rosalinda, a qual além de ostentar o sangue inimigo dos Capuleto ainda faz um voto de castidade. A amada inatingível é o motivo pelo qual o jovem Montéquio vai ao baile de máscaras, onde entra sentindo uma paixão avassaladora por uma e sai com um sentimento equivalente por outra. Julieta, por sua vez, tem apenas 13 anos, a inexperiência compreensível de uma criança e o coração rebelde das moças direcionadas por seus pais para o marido que lhes convém, isto é, para homens semelhantes a si mesmos.


Como adolescentes, creem que a única razão de suas vidas é estarem um com o outro e, para isso, desafiam a obediência aos pais, casam-se em segredo, planejam fugir e abdicam da vida na impossibilidade de não concretizarem este ideal. O aspecto mórbido do amor doentio é, então, atenuado pelo entendimento de que o sacrifício em vida será recompensando posteriormente, em um plano divino.


No plano emocional, podemos compreender que Romeu e Julieta eram muito jovens, até infantis, para lidarem com suas frustrações e não amadureceram o suficiente para compreender que todo excesso é fonte de desajuste e que um cônjuge jamais pode ser incluído na vida de alguém como um meio de garantir a felicidade que lhe falta.


Quem traz vazios na alma deve buscar supri-los, primeiro, com amor-próprio. É neste ponto que o coração está realmente preparado para compartilhar uma relação adulta e saudável com outra pessoa. Na melhor das hipóteses, o amor é o propósito maior da vida e a força que nos impulsiona para ela, nunca a razão de sua tragédia.


A diferença entre amor saudável e doentio é tema do grupo de estudos e práticas terapêuticas de Consciência Sistêmica, cujos encontros ocorrem às quartas, das 19h30 às 21h30, e dos Workshops de Constelações Familiares, realizados mensalmente, aos sábados, das 13h às 20h30.


Venha conhecer e participar. Uma vida mais feliz e saudável está à sua espera!